LIvro: Soldado, Atleta e Lavrador

1ª Parte

Soldado

N

enhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou. (2 Tm 2:4)

Soldados são pessoas que prestam serviço à Pátria. Delas é cobrado um desempenho disciplinar incomum. Passam por escolas preparatórias que os ajudam a desenvolver habilidades, dentre elas, a disciplina. Todo soldado está hierarquicamente subordinado a alguém, um superior. E, obviamente, este superior também faz parte de uma cadeia hierárquica que o levará a outro superior, até que se atinja o topo da autoridade daquela Força em que estão incorporados. Nesta escala de hierarquia, o que está ocupando o maior posto será o chefe da nação que é quem arregimenta cada soldado.

Há um grande investimento para que cada arregimentado receba a formação adequada para que fique apto. Este investimento é passado através de atividades extenuantes ministradas de cima para baixo, na mesma cadeia hierárquica, levando os soldados quase à exaustão. E quando o soldado esta preparado satisfaz seus superiores, presta grandes serviços à Pátria e é motivo de grande satisfação daquele que o comanda do Posto mais alto.

Atleta

Igualmente, o atleta não é coroado se não lutar segundo as normas. (2 Tm 2:5)

Desde a mais tenra idade a criança se dedica à modalidade esportiva para a qual se sente atraída. È muito raro um atleta começar a sua formação física já na idade adulta. Isso seria exceção não regra.

Como o soldado, o atleta passa por rigorosa disciplina, percorrendo todas as etapas de uma escalada íngreme e tortuosa, sofrendo e negando práticas que possam retirá-lo do objetivo maior que é vencer a qualquer custo.

Para se ter um bom treinador paga-se caro. Os uniformes, os calçados adequados, a alimentação e os patrocínios também exigem do atleta outras dificuldades permanentes. A forte dedicação fará que o atleta ganhe as habilidades que o promoverá a campeão. Mas para isso, terá que se submeter a todas as normas, passo a passo.

Lavrador

O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a participar dos frutos. (2 Tm 2:6)

Lavrar a terra é tarefa árdua. É preciso limpar a terra, abrir-lhe os sulcos, rasgá-la como se fosse um ventre, jogar nela a semente e fechá-la com confiança, esperando que todos os dias sejam de bom clima para que a semente morra e arrebente dela a planta que um dia frutificará. Enquanto a plantinha abre espaço para atingir o lado de fora do sulco da terra, o lavrador está ocupado espantando pássaros, pragas e ervas daninhas que se instalarão, na tentativa de frustrar a vida que brota de cada semente. E tais adversidades tentarão até a colheita, de todas as formas, fazer minar a força da planta, que sempre inspecionada e guardada pelo lavrador, haverá de dar seus frutos. Uns o alimentarão, outros serão selecionados para voltarem aos sulcos da terra.

Pondera o que acabo de dizer, porque o senhor te dará compreensão em todas as coisas. (2 Tm 2:7)

Ser soldado, atleta e lavrador, segundo o conselho de Paulo a Timóteo, também é princípio para o discipulado.

A disciplina estabelece o critério da formação do caráter do discípulo. Atentar para os conselhos e acatá-los livra o discípulo de muitas maneiras.

Caminhos

Se o soldado quiser andar segundo seus próprios conceitos e debaixo de seu próprio domínio, será um soldado abatido. Hoje, as forças militares atuantes, passam por um momento de “vergonha”, exatamente por estarem se envolvendo em negócios “deste mundo”, deixando a obediência aos líderes e andando debaixo de “outras lideranças”. Todo dia morre um soldado, não porque estava defendendo e cumprindo com sua missão, mas porque estava debaixo do “governo errado”.

No mundo espiritual não é diferente. O soldado que não estiver andando segundo as regras do seu comandante, também será um soldado abatido. O soldado-discípulo distraído será um soldado desarmado. Ele estará até por dentro de todas as atualidades, pode até saber das novidades culturais, mas é incapaz de saber qual foi a palavra profética que foi entregue na última reunião da Igreja, qual o livro que os irmãos estão comentando, qual é o irmão que está precisando de apoio e intercessão. Isto é apenas o início de um despenhadeiro que vem se despontando na vida do soldado-discípulo que se envolve com as coisas desta vida.

Objetivos quebrados

O soldado tem hora certa para cumprir cada ordem, porque a excelência exige tarefa feita dentro de seu tempo. Nada é de qualquer maneira. O bom discípulo segue normas que lhe facilitam chegar aos objetivos. Uma vez quebradas as normas, desencadearão conseqüências desastrosas na vida do discípulo e talvez na vida de todos que o cercam.

Imaginemos um irmão que cede ao convite de alguém para ir ao cinema ver a estréia de um filme badalado pela mídia. Ele resolve ir na noite que havia reunião da célula. O filme não é parecido com os que ele está acostumado ver juntamente com os irmãos, acabando por influenciá-lo em práticas que ele já sabia não serem boas para um discípulo. Mas não se arrepende e mente para seu discipulador que precisou faltar à reunião. Seu comportamento começa a se alterar. Começa a faltar a outras reuniões. O discipulador tem muitas pessoas que estão precisando de ajuda, que estão buscando ajuda. Está sentindo a falta daquele discípulo, seu coração se aperta, mas... onde ele anda? É preciso buscar tempo para conversar, ver o que está havendo.

A hierarquia

Se o soldado vive debaixo de hierarquia a fim de se submeter aos seus superiores, há também um cuidado e um zelo daqueles que se constituem autoridade sobre ele, uma vez que existe uma cadeia hierárquica. Há casos de soldados que são desligados do regimento por terem tido uma supervisão falha. Como saber se um soldado não está presente se não for feita uma chamada, um controle? E uma vez notada a sua falta, a notificação tem que vir a tempo.

A metáfora “soldado”

Através de revelação do Espírito Santo ao Apóstolo Paulo, vemos o amor de Deus através desta figura metafórica: soldado. Soldado, tanto é aquele que combate, quanto é aquele que cuida de outros. Esta verdade se confirmou na pessoa do senhor Jesus Cristo. Ele deixou a sua glória e veio servir, veio ser servo. Vejo aí um soldado.

A missão do próprio “Arregimentador” foi descer para ser soldado. O próprio Senhor da Pátria invisível e eterna se fez servo para ensinar individualmente, em figura humana, cada discípulo, a ser soldado. E, pensando na Igreja, se fez dela o Cabeça. E tendo partido de volta para os céus – a pátria - enviou o Espírito Santo, para nos convencer da verdade – O Senhor Jesus – e fazer de nós – A Igreja – o templo do Espírito Santo. Ele não quer que ninguém se perca.

Figuradamente, o soldado de quem Paulo fala, é o discípulo que se empenha para não perder cadência, que marcha. Se nossa pátria é o céu e se há uma cadeia hierárquica, nosso dever é estar atentos, dentro da rígida disciplina daquele que nos arregimentou.

O senhor não colocou pessoas sobre nós para nos comandar, mas para zelar por nós. Tanto é que Ele disse: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por nossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.” (Hb 13:17) Este versículo ensina ao soldado a andar debaixo da liderança, mas ensina ao líder a velar pelos seus liderados. Ele aconselha tanto ao soldado-discípulo que respalda a vida do próprio, da seguinte forma: Soldado, obedeça ao seu guia. Tenta entender, confia e ouve! Mas diz também: soldado, ajude a quem você aconselha, oferece-lhe apoio, ande com ele. E volta e diz: soldado deixe seu discipulador tomar conta de você, mas permita a ele fazer isto com alegria, ou seja, ajude-o, pois lidar com rebeldes é muito difícil.

No final o mais importante é que todos ganhem – o soldado que treina e cuida e o soldado que recebe treinamento. Há um posto a galgar. Há objetivos a serem conquistados. Assim a Igreja perseverará unânime, conforme At 2: 46.

Combatendo a displicência

Um soldado jamais se afasta de suas armas. Com elas, ele vislumbra o alvo. Mas aquele que se descuida e começa a deixar de lado as “verdades”, as expectativas, será “alvo” fácil.

Discípulo displicente é vulnerável. Soldado vulnerável é abatido com muita facilidade, porque suas asmas estão longe de suas mãos. Ao primeiro ataque é atingido. Os ferimentos podem ser fatais, se não tratados. É preciso urgentemente dar o brado: socorro! É preciso confessar, ser transparente e recomeçar. Nosso senhor é o arregimentador mais bondoso que existe. Ele continua investindo e crendo que soldado bom mostra suas cicatrizes.

Aquartelados

Um superior passa por um soldado e o vê sem o quepe, peça que cobre a cabeça como parte do uniforme. O superior, por zelo, chega até o soldado e o manda colocar o quepe na cabeça. Tal situação desmoraliza a Força a que ambos pertencem. O bom soldado anda impecavelmente uniformizado e cabe aos superiores inspecioná-los. Mas, se o seu superior vir a situação e não ordenar ao soldado que cubra a cabeça, e for visto por outro superior aos dois, imediatamente será cobrado do intermediário a falta de zelo que ele demonstrou para com o soldado. Haverá punição, pois cabe à Força capacitar cada componente a guardar os seus soldados.

Por outro lado, se há uma missão para determinado grupo de soldados, há quem os lidere e cabe a este líder guardar a vida de todos ali. A missão deve ser cumprida sem perda de ninguém. Se houver um soldado ferido, ele é carregado para um lugar seguro, a fim de curá-lo ou a fim de proporcionar-lhe a dignidade nos seus últimos momentos dentro da Força. Jamais ele é deixado para trás. Se houve nele qualquer displicência, se veio a ser alvo fácil, tão logo ele se reabilite, vem a punição por ter facilitado o avanço da tropa inimiga. Não se entra em nenhuma missão para perder. Todos são escolhidos a dedo. Cada soldado é especial dentro de sua Força, tanto que se dá nome e número específico para cada um.

No reino

De igual maneira que o discípulo presta contas aos seus líderes, seus líderes também devem zelar por eles. Há exemplos de grandes parcerias na palavra de Deus, que retratam bem o que somos dentro do corpo. Dentre tantos, destaco Elias e Eliseu. Por que será a maioria das coisas que aconteceram a Elias aconteceram também a Eliseu? E por que Elizeu tomou praticamente as mesmas atitudes de Elias? Não eram pessoas distintas? O que torna um discípulo parecido com o seu mestre é a convivência. Posso imaginar os olhos atentos de Eliseu, fixados nos olhos de Elias, a ouvir-lhe os testemunhos. E quando chegou sua vez, Eliseu sabia exatamente o que fazer, primeiro porque sabia que Deus é sempre imutável, depois porque se havia sido fiel a Elias, ele sabia que seria também com ele.

Sentar, conversar, aconselhar, ouvir, assimilar e obedecer: isto é comunhão.

E o que faz o corpo prestar atenção à cabeça também é a comunhão. É andar no espírito, é não sair dele.

Lavando os pés dos discípulos, além de lição de humildade, Jesus nos dá exemplo. O servo não é maior que o seu senhor, nem o enviado maior que aquele que o enviou. (Jo13:16)

Todos somos membros desse corpo, individualmente. Membros do corpo de Cristo. Não pode haver divisão no corpo, mas sim cooperação, uns em favor dos outros. (1 cor.12:25-27)

Creio que todos somos soldados, uns trabalham na frente do pelotão, outros intermedeiam, e há os que ficam na retaguarda. Mesmo dentro da hierarquia, o objetivo único é para todo soldado: satisfazer àquele que o arregimentou, a saber, o Nosso Senhor Jesus Cristo. Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém. (Rm 11:36 )

Em 2ª Sm 11e12 vemos a história de Urias que foi um soldado que se negou a

tirar proveito de situações, porque era fiel à Arca, a Joabe e aos companheiros de batalha. Sua morte entristeceu o coração de Deus a ponto do próprio Deus enviar a Davi o profeta Natã para confrontá-lo. Na verdade o coração do senhor se apraz, se alegra em ver o esforço do soldado, ou melhor, do discípulo que é soldado.

Quase no fim da Epístola, Paulo diz que combateu o bom combate, completou a carreira e guardou a fé. Ele realmente não só aconselhou Timóteo a ser soldado, ele mesmo diz que combateu. Soldados combatem. Um pouco antes ele escreveu a seu discípulo: Cumpre cabalmente o teu ministério, ou seja, seja soldado como eu fui soldado, serve ao senhor, seja discípulo e seja discipulador, até que o combate termine.

Alistar-se no exército é integrar-se à Força.

Aceitar o senhorio de Jesus e integrar-se à igreja é ser soldado da força invisível.

Empunhe as armas e tremule as bandeiras!

2ª parte

I

gualmente, o atleta não é coroado se não lutar segundo as normas. (2 Tm 2:5)

Qualquer modalidade esportiva requer do seu praticante, disciplina às normas.

Acordar cedo não é costume de muitos. Se o tempo estiver frio então, é preciso ter coragem para deixar o cobertor ou edredom. Enfrentar o chuveiro e sair no frescor da alvorada realmente é custoso e sacrificial. Mas o bom atleta não olha as dificuldades, ele é um forte, olha para o objetivo. O primeiro passo para ser um bom atleta é, então, ser persistente.

Há muitos que têm vontade e vocação para serem um atleta. Têm compleição física, postura, fôlego, digamos assim, não se desanimam quando aparece o primeiro obstáculo. Em compensação há aqueles que se destacam pela dedicação, resistência e boa vontade. Jamais se quedam diante dos problemas. Vão à luta e enfrentam todos os obstáculos que surgem. Começam a buscar alvos mais concretos, a carreira deslancha e serão colecionadores de troféus.

Virão também dores musculares, rompimentos de tendões, distensões, fraturas. Entrarão em severo tratamento a fim de recuperarem-se o mais brevemente possível. Competidores não têm tempo disponível, precisam treinar. Não podem perder a forma, muito menos se acomodarem. O objetivo está traçado e atingi-lo será para poucos.

Os problemas

O discípulo sempre encontrará obstáculos para prosseguir na visão.

Se o treinador do discípulo-atleta falar com ele com mais vigor, ele se magoa. Nosso coração é enganoso como a palavra de Deus mesmo nos previne, e, no decorrer de nosso aprendizado, convivemos com pessoas que também estão começando a caminhar, ainda não têm domínio sobre a língua, falam e machucam. São homens de coração amargoso que se lançam sobre nós e nos fazem perder a vida, injetando-nos suas palavras de amargura, que podem se instalar em nós, causando terríveis seqüelas (Jz 18:25). Raízes de amarguras podem deixar o discípulo que é atleta machucado (Hb 12:15). Se não houver tratamento adequado e no tempo certo, pode vir a ser enorme o prejuízo causado, a ponto de atrofiá-lo. Atleta atrofiado é atleta que não concorre, não disputa, não luta – não tem forças. É como o soldado que perde o compasso.

Os homens de coração amargoso são usados pelo inimigo. Podem ser até pessoas íntimas que só sabem criticar, só depreciam. Só enxergam os defeitos, comentam, acrescentam, e se afastam. A depreciação machuca grandemente o ser humano. Ninguém é tão ruim que não tenha ao menos uma qualidade. Uma boa estratégia para ajudar alguém a se corrigir é mostrar-lhe seus talentos. Uma pessoa motivada anda duas milhas, enquanto que uma outra, depreciada, não dá nem um passo. É atleta frustrado.

Outro fator que rompe tendões do discípulo-atleta é a autopiedade. Enquanto ficarmos olhando para nós mesmos, sentindo pena de nossos fracassos, dores e problemas, não estaremos aptos para enfrentar os desafios da carreira. Discípulo que só vê a si mesmo não cresce. O atleta a si se disciplina, seu olhar não é para o outro atleta, ele observa seu próprio condicionamento físico, é o primeiro a saber onde foi sua falha, onde precisa trabalhar mais. Ele se conhece bem e sabe que se não se tratar adequadamente, jamais conquistará o pódio ou a coroa. Ele pede ajuda ao seu treinador. O treinador lhe aponta estratégias que o ajudarão a remover suas limitações. Para um atleta não há limites. Superar-se sempre é o desafio. Conhecer-se, render-se, trabalhar sua falha e vencê-la é o único caminho para a vitória. De mais a mais, nenhum treinador, por mais hábil que seja, jamais exercerá influência total em alguém, ele pode apontar, diagnosticar. Só o próprio atleta pode se corrigir.

Paradoxalmente surge também um terceiro obstáculo na vida do discípulo-atleta: a arrogância. Há aquele tipo de atleta que acha que é mais forte e mais preparado que todos, que tem maior experiência, que já ultrapassou muitos limites. Ele se o bom! É independente. Vive no doping secreto, utiliza-se de recursos tecnológicos que escondem o efeito do medicamento anabolizante. É muito difícil provar este tipo de doping e o atleta vai se “inchando”, achando que é o tal, o maior, o invencível. Começa a ter resultados surpreendentes. Burla a lei, e, no fundo, sabe disto. A sua arrogância irá consumi-lo em breve. (Pv 16:5)

A displicência é mais um grande problema na vida do atleta. Ele começa por faltar aos treinos. Dia após dia surge um compromisso que ele coloca no lugar do treinamento. Ele começa ficando fora de forma. É o discípulo que não lê a Palavra e nem medita nela. Não vai ao trono. Começa ficar desidratado, pois já não bebe da água da vida. Este não vence nada. É do tipo que deixa para a próxima temporada. Jamais será atleta de verdade. Sua visão é conturbada. Não tem objetivo, será um frustrado. No final de sua vida ele contará histórias do tipo: - Eu queria ser um corredor... ou: - Eu queria ser um ciclista... Queria... mas, nunca lutou conforme as normas.

Roupas do atleta

Para cada modalidade esportiva há uma roupa apropriada, os seus sapatos devem ser os mais confortáveis, dentro da necessidade de cada desportista. Uniformes errados prejudicarão tremendamente no desempenho da competição, podendo levar o atleta a perder. De igual forma o discípulo-atleta que não se ajusta dentro da armadura de Deus descrita em Efésios 6:10-18, certamente será presa fácil do inimigo que se esconde nos obstáculos vistos anteriormente.

Ao escrever aos Filipenses, no capítulo 2, Paulo aconselha que “nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo.” É esta palavra de fundamental importância na vida do discípulo-atleta. Para vencer a competição – que é a luta contra as adversidades e pecados – para ser coroado, o discípulo precisa ser humilde. Deus quer que olhemos todos como se fossem superiores a nós mesmos, não para enfrentá-lo como se precisássemos superá-los enquanto competidores, mas para servi-los. A humildade nos leva a servir. Se houver dificuldade é preciso buscar ajuda. Superar-se é para atletas. Não se ver como auto-suficiente é para o discípulo.

O tempo

Algumas competições são controladas por cronômetros. O atleta será recordista se chegar em menor tempo. O discípulo-atleta tem a vida breve como a da erva, que de manhã está verde e floresce. De tarde murcha, seca e cai. Nenhum discípulo pode deixar nada para depois. A vida dele não lhe pertence, seu tempo, muito menos.

Propósitos

Estamos na terra, dentro de uma competição. Nossa luta está travada. Não buscamos troféus terrenos, aliás, se o discípulo tiver esta visão, já perdeu a temporada. Nossos propósitos são eternos, nosso prêmio é a coroa da vida. Jesus é galardoador dos atletas que vencem a si mesmos, deixando para trás os obstáculos, dos que sabem remir seu tempo para chegar rápido a novas conquistas. Paulo completou a carreira, mesmo tendo sofrido todo tipo de adversidades. Um discípulo aproveita o testemunho de outro para firmar-se. E cuida de ser sóbrio, deixando transparecer sua vida para sustentar a de outros.

3ª Parte

O

lavrador que trabalha deve ser o primeiro a participar dos frutos. (2 Tm 2:6)

Quando menina gostava de ver o trabalho de meu pai, que era um humilde lavrador. Nos pequenos buracos que ele havia cavado simetricamente, ele jogava duas ou três sementes e puxava a terra suavemente com os pés e as cobria, numa dança bonita, compassada, sem errar a quantidade de grãos, acertando os buracos, fechando as covas, tudo ritmado, como se fosse uma coreografia. Seu olhar era sereno e calmo.

O lavrador é um homem de fé. Jogar os grãos que estão em suas mãos debaixo da terra e confiar na sua multiplicação, requer fé e sabedoria. Fé, porque crê que o sobrenatural vai agir, e sabedoria, por pensar no amanhã, em expandir um grão em dez, trinta, cem. A semente, uma vez enterrada, morre. Morrendo se abre e se abrindo, dá a vida.

O lavrador não encontra a terra pronta para o plantio. Ele precisa investir muito do seu tempo debaixo de sol escaldante, muitas vezes, para fazer o roçado. Ajunta aos montes o mato seco e costuma queimá-lo em tempo propício. Depois começa a capinar a terra. Por fim ele a revira com o arado, para que fique afofada. Não deve demorar-se muito nestas tarefas, porque o tempo pode mudar, também há ervas que têm facilidade para crescerem rápido. Ele não fica olhando para o tempo. Ele o aproveita. Cada jornada de trabalho tem inicio no clarear do dia e tem seu término ao cair da noite. É uma corrida contra o tempo, para que não se perca nenhuma etapa. As noites de um lavrador são de sono pesado. A fadiga do dia é enorme.

Chega a hora de plantar. O lavrador lança nos sulcos da terra as suas sementes, o seu pão. E fecha os seus sonhos, as suas expectativas com a própria terra. Mas o trabalho não acaba aí. Ele precisa fazer espantalhos para afugentar os pássaros que irão tentar roubar suas sementes. Ele precisa cuidar das plantinhas que brotam, para que não se sufoquem com as ervas daninhas. E quando, um pouquinho maiores, ele precisa chegar terra aos seus pés para fortalecê-las. Se cair chuva abundante, poderá perder toda a plantação, se faltar chuva, ela estorricará e morrerá. As cercas devem estar bem cuidadas, pois se se romperem, as plantas serão pisoteadas, arrancadas ou virarão pastagem de animais ruminantes ou roedores. O lavrador precisa estar atento na sua árdua função. Quando finalmente a planta amadurecer, ele terá de colhê-la, trabalho que o deixará ainda mais exausto.

Mas terá se concluído o ciclo da multiplicação. Então o lavrador separará os melhores grãos e as guardará para o novo plantio, os demais o alimentarão.

A escolha da terra

Aparentemente todas as terras são boas para a plantação, mas o clima de determinadas regiões só será próprio para o cultivo de determinadas plantas.

Se, no entanto, o clima for bom, observa-se a área a ser cultivada. Se for uma encosta de montanha algumas espécies poderão ser cultivadas ali. Se for uma várzea aceitará bem outro tipo de plantação e assim por diante. Se a terra estiver sendo explorada constantemente, ano após ano, sem o devido descanso, ela terá de receber adubação necessária como reposição de nutrientes orgânicos, a fim de restaurar-lhe as perdas.

No Reino

O discípulo-lavrador receberá orientação para trabalhar com qualquer pessoa que o senhor colocar em seu caminho. Ele vive pela fé. (Hb 10:38). Não olha para as circunstâncias nem para as aparências. Ele crê que o evangelho do Reino deve ser pregado a tempo e fora de tempo. Tem as sementes boas nas mãos para jogá-las nas oportunidades que, às vezes, ele mesmo cava. É um abridor de sulcos nas vidas, ou seja, se alguém se aproxima, ele logo fala do amor de Jesus.

A terra tem chamado por lavradores. Há tantos rostos frios, duros, tantos ouvidos ocupados com “sonzinhos” modernos. Tantos olhos fechados, no cochilo, no esgotamento da vida de corre-corre, que adorariam receber um sorriso, uma palavra boa, um bom dia bem humorado que fosse. Têm faltado lavradores na seara. Os campos já branquejam para ceifa. (Jo 4:35)

A garra das trepadeiras

Em João 15 Jesus diz que Ele é a videira verdadeira e que seu Pai é o agricultor. É uma das mais belas explanações do Reino. Quem conhece uma videira sabe que é uma planta que cresce para os lados, não é uma árvore que sobe para o alto. Jesus poderia dizer que Ele era a Oliveira, a Figueira, árvores citadas na Bíblia e comuns às regiões bíblicas. Estas árvores, porém, são comuns, crescem frondosamente para o alto. Jesus diz ser a videira. As videiras têm uma característica peculiar: O tronco é forte, porém seus ramos são frágeis. Os que crescerem e roçarem no chão secarão e não serão produtivos. Jesus disse que o Pai os cortaria, mas, aos que produzissem, o Pai cuidaria delas para que pudessem produzir mais ainda.

Os ramos brotam do tronco e de outros ramos. Como nas trepadeiras comuns, os ramos da videira possuem garras. Estas procuram abraçar-se a outros ramos para estarem seguras na hora das tempestades e vendavais.

O lavrador que cultiva videiras coloca estacas bem firmes para dar suporte aos ramos. Estes se agarram aos suportes, procurando firmeza, e encontram.

As estacas são os irmãos que suportam uns aos outros em amor. E quem realmente estiver se nutrindo da seiva que vem de Jesus e agarrados no corpo que são os irmãos, produzirá muito. Uma videira pode crescer muito e ser bastante produtiva, se realmente aceitar o cuidado do Agricultor.

A Igreja cresce e dá frutos quando a unidade existe. A comunhão vertical e horizontal é a alegria de Deus, porque faz seus filhos ficarem fortes. A alegria do Senhor é a nossa força. Ninguém é forte sozinho. Seremos fortes no Senhor com a ajuda dos nossos irmãos.

O amor

Só servirá de suporte quem ama. Igreja é feita de amor. Se Paulo não amasse Timóteo jamais veria seu discípulo crescendo. Suportar fala de pagar um certo preço. Nem sempre os discípulos são fáceis de serem amados. Costumam ser rebeldes, desobedientes e o que poderiam aprender em curto espaço de tempo levam a vida inteira para perceberem. A graça de Deus, enquanto Agricultor, vai pegando aquelas garrinhas e ajudando, amarrando-as em outros ramos fortes e acabam sendo sustentados e até ameaçam dar um cachinho de uva, nunca da forma que o Agricultor idealizou, por causa da dureza de seu coração. A maior parte destes discípulos são aqueles que querem ser independentes, desagarrados dos ramos e das estacas, suscetíveis aos ventos e temporais. Sempre é preciso ter cautela para falar com estes irmãos. Daí o desgaste, a falta de saúde, o esfriamento. Jesus não quer que nenhum ramo seja cortado, pois ramo cortado é corpo mutilado. Ramo tem garra e se prende um ao outro. Como suporte, o discípulo-lavrador estende sua mão e busca o mais fraco, e com amor, paciência e bondade insiste para não perder aquele irmão. No fim todos interagem: o amor do lavrador guarda a semente, a estaca guarda o ramo.

O joio

No meio do campo o lavrador encontra ervas daninhas que querem sufocar suas plantinhas. Para fortalecê-las, ele deixa que as ervas cresçam junto com as plantas. Ele chega terra aos pés de suas plantinhas, ele cuida delas, uma por uma todas são especiais para ele. O joio jamais terá a força da planta boa, cuidada pelo lavrador. Ele não é arrancado do campo para que não danifique as raízes das plantinhas. São separados na colheita, não há possibilidade de confusão. Planta frutifica, joio é imprestável, será queimado, disse Jesus.

A fé

Semente morta dentro da terra, planta nova no solo. O discípulo-lavrador só colhe se plantar, se crer, se arregaçar as mangas. Ele deve ter paciência para ver sua semente brotar, cuidar dela, amá-la e protegê-la.

Gerar filhos na fé é excelente, mas o senhor quer que eles se assentem à mesa e façam parte da família. Filho é filho. Paulo amou Timóteo até o fim.

Infelizmente as intempéries do dia-a-dia atrapalham a visão de muitos, que até plantam, mas desanimam quando têm de cuidar. Quem não tem fé jamais irá colher. Talvez outros lavradores se compadecerão e poderão vir a colher a semente plantada por outro. De tudo, porém, se prestará conta.

A vontade de Deus é que o lavrador seja o primeiro a se alimentar dos frutos.

Final

Pondera o que acaba de dizer, porque o senhor te dará compreensão em todas as coisas. (2ª Tm 2:7)

Soldado, atleta e lavrador são fases na vida do discípulo. Alguns não passarão de soldados. Mas se servirem com excelência satisfarão sempre ao dono do exército. Ao toque da trombeta perfilar-se-ão eretos e disciplinados, aptos para o combate.

Outros alcançarão o posto de atletas. Serão disciplinados como bons soldados e fortes como atletas. Terão seus destinos bem traçados e definidos. Subirão no pódio e receberão o troféu.

Alguns, no entanto, avançando, serão exímios soldados, atletas e lavradores.

Como Paulo, poderão dizer:

Combati o bom combate – soldado

Completei a carreira – atleta

Guardei a fé – lavrador.

Último conselho

A ponderação é o chamado para a reflexão.

Só se segue um conselho, quando este vem de alguém que sabemos nos amar, e mesmo assim, se soubermos ser humildes.

Se pararmos para refletir na excelente oportunidade de sermos soldados, atletas e lavradores, e se definirmos bem os nossos objetivos, montando planos estratégicos diários, nos entregando arduamente à conquista de depender cada vez mais do Senhor, com certeza, teremos dado início ao nosso alistamento no exército.

Quando se esclarecer dentro de nós esta ponderação, poderemos ser mais que soldados, poderemos chegar a ramos de onde brotarão novos ramos. E cheios de frutos, para a glória do Senhor Jesus.

Nenhuma postagem.
Nenhuma postagem.